As escolhas que fazemos a partir do que não podemos escolher

As escolhas que fazemos a partir do que não podemos escolher

O mundo em que vivemos pode ser cheio de desafios e dificuldades, mas também pode ser um lugar maravilhoso. Grande parte, cabe a nós, precisamente as nossas escolhas que tomamos diariamente dentro da nossa realidade, sejam elas básicas, tais como escolher qual roupa vestir até uma escolha que pode mudar o futuro, como qual profissão seguir, gerando um grande impacto em nossa vida.

É fato, que nem sempre temos em nossas mãos o poder da escolha, como por exemplo, não podemos escolher onde e quando nascer, em qual família vamos ser inseridos, quando iremos morrer e até mesmo quando irá acontecer algo que nos fere profundamente como luto das perdas significativas, os acidentes, as violências, a miséria, um covid-19….

Mas entendo e confio na teoria quando ela me diz que podemos eleger o que fazemos a partir desses momentos marcantes. Ou seja, o sofrimento, o nada, a finitude, a responsabilidade, as escolhas, a inovação, a adaptação, entre outros, são elementos que fazem parte da nossa condição humana. Não estamos livres de muitos acontecimentos das nossas vidas, porém, as escolhas que vamos tomar ao depararmos com a realidade, e como proceder diante de todo esse caos é que mudará todo o percurso e te definirá enquanto pessoa

Mas e se eu fizer alguma escolha diante disso tudo e mesmo assim continuar dando errado?

Aprenda e continue, até porque como diz Meredith Grey na série grey’s anatomy “ O carrossel nunca para de girar”. Aprender é quando assimilamos algo, quando temos conhecimentos de alguma coisa que é importante e faz parte da nossa vida. E isso ocorre de várias formas, por meio da observação, escuta, experiência, prática, leitura, raciocínio e a repetição. O processo do conhecimento e do autoconhecimento também significa aprender sobre nós mesmos, sobre o outro e sobre esse ambiente existente ao qual nos relacionamos, para assim, fazermos escolhas de acordo com as nossas necessidades e assimilar o que for preciso. Dessa forma, com o autoconhecimento, chegamos a um ponto de ter uma ressignificação de uma vida mais leve e congruente com os nossos pensamentos, sentimentos e comportamentos.

Quando acontece algo inesperado em nossa vida, que está fora de controle gerando sentimentos e emoções ruins, não podemos apenas ignorar a dor, quando ela vem, muitas vezes ficamos cegos e não conseguimos enxergar além. Então, primeiro de tudo, necessitamos acolhê-la, ouvi-la, tocá-la bem de mansinho, bater na porta e pedir para entrar, falar com ela e sobre ela. Nesse momento de escrita, comparo a dor emocional como se fosse um bebê em seus primeiros dias de vida: precisa de todo cuidado possível e quando ele chora precisamos entender o que significa esse choro para poder satisfazê-lo, até que ele consiga se reconhecer e caminhar sozinho nos próximos meses e anos. Com a dor, também precisamos compreender o que ela nos diz, e como nos sentimos para podermos caminhar com ela em nossa vida, superando os desafios cotidianos que os contextos nos colocam.

No processo de conhecer a dor, as escolhas são inevitáveis. Na minha prática clínica e nos estudos de caso que frequento percebo que o fato de se decidir entre as opções que se tem é uma grande dificuldade para os clientes/pacientes. Dessa maneira, podemos notar que há pessoas que não conseguem fazer grandes escolhas por inúmeras questões (mal sabem elas que só por não escolher já é uma escolha) e continuam na mesma posição em que estão, já outras fazem suas escolhas, porém vivem no arrependimento e apreensivos com as próximas decisões que irão tomar.

Sendo assim, possuímos obstáculos no momento de escolher e em muitas das vezes, ficamos indecisos sobre o que é certo e errado: temos insegurança, medo dos julgamentos que vamos receber, perder pessoas importantes, e no meio disso tudo optamos por escolher o que o outro quer da nossa vida, abandonando o que queremos viver e o que desejamos para o nosso futuro. As incertezas e aflições que temos, alcançam um patamar de precisarmos que o outro confirme as nossas escolhas de vida, ou de deixarmos que as pessoas escolham por nós, ou de encontrarmos alguém para jogarmos a culpa se der errado, até porque não queremos ser responsáveis pela falha e nem queremos enfrentar ela.

Porém, é importante ressaltar que estou fazendo uma análise geral do que ocorre frequentemente no consultório, mas não podemos categorizar, visto que, cada um de nós possui uma pura singularidade e somos detentores de uma história única.

Portanto, quero deixar uma frase que considero importante para essa reflexão. Ela é do nosso autor maravilhoso Carlos Drummond de Andrade que lindamente nos diz “A dor é inevitável. O sofrimento é opcional…” Ou seja, se você ganhar um não ou algo ruim acontecer, a dor irá aparecer pois ela é inevitável, ela é um dos nossos sentimentos. No entanto, saber o que fazer com essa dor, cabe a nós junto ao processo de autoconhecimento.

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Autora: ANA KAROLINA LISBOA ARRUDA | Psicóloga – CRP 09/13751

Graduada em psicologia pela Universidade Alves Faria (UNIALFA). Durante a graduação realizou cursos de Cuidados paliativos, psicopatologia, LIBRAS nivel I, psicologia forense e introdutório de Gestalt-terapia. Apresentou inúmeros trabalhos em congressos até mesmo fora de Goiânia. Na prática clínica sob a luz da Gestalt-terapia tem experiência com o público infantil e adulto, tendo como demandas ansiedade, depressão, luto, baixo autoestima, questões familiares, relacionamentos amorosos entre outros. Respeitando e cuidando da sua existência, de forma acolhedora e sem julgamentos.

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