Alcançando vôos no amor

Alcançando vôos no amor

Quando questionadas a maioria das pessoas entram no consenso que relacionamentos amorosos são complicados e difíceis. De imediato, algumas compartilham suas experiências e afirmam que quase sempre se machucam nas relações. O eterno clichê “mas o importante é o aprendizado”, é repetidamente anunciado quase no ritmo de u martelo ao fincar o prego na madeira. Mas o que quer dizer com “aprendizado”?

De acordo com suas singularidades e experiências cada um descreve o que conseguiu absorver para si com aquela relação que considera fracassada. Porém, até que ponto isso se confirma? Por que ainda assim, algumas pessoas relatam um ciclo de repetições tanto de comportamentos como até mesmo repetições dos perfis dos seus parceiros ou parceiras? E por que também dizem que apesar dos aprendizados, não conseguem fazer diferente nas relações?

Em Repetir, Recordar e Elaborar (Freud, 1914), Freud afirma que “enquanto o paciente se encontra em tratamento, não pode deixar de ter esta compulsão à repetição, que é uma maneira de recordar sem que a pessoa se dê conta do que está ocorrendo, ou seja, quando o paciente repete, ele atua sem saber que está repetindo”. (PENA, 2007, p.84). O mais interessante é que quando algo se repete, isso diz sobre alguma verdade inconsciente do sujeito. Por isso, para que se possa trabalhar essa resistência, é preciso tornar, segundo Freud, o que se é inconsciente em consciente.

Porém, em 1920, no texto Além do Princípio do Prazer, Freud dá uma virada em sua teoria sobre a repetição, “a presença da repetição ultrapassa os limites do tratamento analítico, pois ela está presente na vida de todas as pessoas e revela um caráter pulsional, portanto, inerente à condição humana”. (PENA, 2007, p.84).

Ao analisar o sonho traumático e a brincadeira do fort-da, Freud descobre uma repetição desenfreada em situações que em vez de prazer, ou seja, o sujeito repete inconscientemente o que lhe causa dor e sofrimento. Ele considera o desprazer como uma etapa na obtenção do prazer. Em outras palavras, Freud conclui nesse texto que a repetição anteriormente ligada por ele apenas ao campo transferencial tem sua força propulsora baseada na pulsão. E é a pulsão de morte que rege a repetição. (PENA, 2007).

Não se pode querer livre o pássaro e ao mesmo tempo deixá-lo na gaiola. O que quero dizer com isso? Bem, temos a tendência de viver numa constante de que se isso aconteceu, preciso aceitar, seguir em frente e viver apesar das experiências dolorosas e traumáticas. Até seria um boa alternativa se o “aceitar” também incluísse nossos sentimentos, decepções, vacilos, dores, angústias, fracassos, ansiedades, faltas e não simplesmente a situação. Pois agindo assim, o pássaro sempre ficará pulando de gaiola em gaiola na ânsia de se libertar das lembranças, das cicatrizes, das rugas e das repetições que o predem; não alçando vôos e nem indo de encontro ao amor.
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Referências:
FREUD, S. Recordar, repetir e elaborar. ESB. Rio de Janeiro: Imago, 1914/1996.
FREUD, S. Além do princípio de prazer. ESB. Rio de Janeiro: Imago, 1920/1996.
PENO, B. F. As Vicissitudes da Repetição. Minas Gerais, 2007.

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Autora: FABIANA SOUZA SILVA | Psicóloga – CRP 09/014121

Graduada pela Universidade Paulista (UNIP), atua na clínica em Psicanálise Lacaniana. Tem experiência em atendimentos na modalidade de Plantão Psicológico, e também em Grupos e Comunidades. Desenvolveu uma pesquisa científica sobre maternidade em famílias homoparentais, assim como, estudos na temática de gênero e sexualidade.

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