As (des)vantagens de ser invisível

As (des)vantagens de ser invisível

Não é de ver que dia desses me descobri invisível? Foi por acaso, caminhei pela rua e as pessoas esbarravam em mim. Passou um amigo e eu chamei por ele, gritei e ele não me (ou)viu. Fiquei perdido. Pensei: Tô sonhando, só pode. Nisso passou por mim uma pessoa pela qual sou apaixonado, parei na frente dela e dei um sorriso assim, desses que a gente sente a luz vindo lá do fundo da alma, sabe? Ela passou por mim como se eu nem existisse.

Caminhei pelas ruas triste, pensativo. “E agora?”, pensei. “Será que ficarei assim pra sempre?”. Por sorte não demorou muito percebi que não era definitivo: Entrei numa loja e todo mundo me olhava de cara feia. Sorri pensando: Ao menos não estou invisível. Mas ainda era estranho, parece que só me via, quem queria olhar de cara feia. Pro resto eu continuava invisível. Peguei uma camiseta, fui pro caixa, e de novo o espanto: A pessoa não me enxergava, mas sorriu pro meu dinheiro. A nota de 100 ela enxerga.

Isso me encucava: “Como posso ser visto por quem não gosta de mim e invisível pras pessoas que gosto?” Ainda penso nisso, mas cada dia menos. Comecei a só aceitar e entender como funciona… É mais ou menos assim: sabe o amigo que gritei na rua dia desses? Pois é, descobri que ele me enxerga as vezes, quando precisa de mim. Mas nunca me enxerga quando eu preciso dele.

A moça que eu gosto também me viu dia desses: sem querer pisei no pé dela e ela abriu maior berreiro. Descobri que não sou visto quando acerto, mas parece que fico brilhando que nem cilibrim quando erro. Nas lojas é parecido, o vendedor só me enxerga quando vê meu dinheiro, mas o segurança parece me enxergar desde antes de entrar na loja. Enxerga bem esse cabra.

Curioso que sou, fiz uns testes, me cobri de ouro e saí na rua: todo mundo me olhava sem cara feia. Fiquei feliz achando que tinha resolvido o problema, aí um policial me parou e perguntou de quem era o ouro. Custou acreditar que era meu. Descobri que viam o ouro, mas não eu. Mesma coisa com o carro que comprei, olhavam pro carro, mas eu descia dele e ficava invisível.

Dia desses, na televisão, vi um filme que achei que me ajudaria: As Vantagens de Ser Invisível. Achei bonitinho que só. Chorei inclusive, sô. Umas fala bonita sobre amor. Mas no fim, continuei triste: Assisti o filme 2 vezes, olhei pra minha vida, e vi vantagem nenhuma em sê invisível.

Eu só queria ser visto, sabe?
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Autor:

FERNANDO DE ASSIS MOTA | Psicólogo – CRP 09/12478

Graduado em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás. Possui experiência como Psicólogo Organizacional em empresas de médio e grande porte no Estado de Goiás. Possui vivência com as demandas de estudantes Brasileiros no exterior. Desenvolveu seu Trabalho de Conclusão de Curso aplicando Psicologia Comportamental na Análise do Comportamento dos Consumidores. Atualmente é Consultor em Psicologia Organizacional e Psicólogo Clínico, com foco no atendimento baseado na Abordagem Comportamental, atuando com responsabilidade no desenvolvimento humano, organizacional e da própria psicologia.

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