Terminei, e agora?
Toda perda exige um trabalho de luto, e o luto é, em geral, a reação à perda de alguém ou de alguma coisa. Nas relações amorosas, de trabalho, nos relacionamentos e no percurso de vida, as perdas permeiam os vínculos intrapessoais e interpessoais.
São vários os tipos de perda, e elas acompanham o ser humano desde seu nascimento. Podemos falar de perdas primárias, como a perda que se tem com o corte do cordão umbilical do recém-nascido; o desmame entendido como a perda do primeiro objeto externo do bebê, entre outras. E podemos falar de perdas que acontecem mais adiante, como perdas materiais ou de algum tipo de investimento financeiro; a perda de um status social; de um emprego; e a perda por rompimentos amorosos ou de relacionamentos afetivos.
Algumas delas são vivenciadas por nós em determinados momentos da vida. Todas são importantes e merecem atenção.
Muitas pessoas têm se queixado sobre o fim de seus relacionamentos amorosos – e sejam eles casamentos de longa data ou namoros recentes, todos são dignos de cuidado!
Nossa sociedade demanda que a gente seja feliz, prega a busca eterna pela felicidade ou por momentos que possam ser registrados e divulgados indiscriminadamente, mas não nos ensina a lidar com a tristeza, com a infelicidade, com o vazio. Não nos ensina a separar, não nos ensina perder, a deixar ir, não nos permite vivenciar o luto – se o luto for sobre o fim de um relacionamento amoroso, então… É proibido! “Para de chorar! Ficar triste para quê? Tem tanta gente legal no mundo! …
Realmente, tem mesmo! Mas vivenciar essa perda de forma genuína é muito importante para que o processo de luto aconteça e para que ocorra o desinvestimento de energia daquele relacionamento, daquela pessoa, e das lembranças que se teve com ela. É reconhecendo a angústia e a dor que se torna possível reconhecer também os aprendizados que essa experiência trouxe, e se ver mais forte a partir dela.
É um processo gradativo que deve ser respeitado, pois acontece de acordo com o ritmo de cada pessoa.
Assim a tristeza vai, aos poucos, cedendo lugar a novos sabores, novas atividades, novos prazeres, novas relações, e por que não dizer: um novo eu?! A energia vai sendo reestabelecida e proporciona à pessoa novas tentativas e novas experiências que podem ser encantadoras.
A dor da perda, seja ela qual for, é pessoal e intransferível. Mas, a escolha de passar por essa etapa da vida sozinho ou com o auxílio de alguém, é sua! Não ignore ou diminua sua dor, não hesite em procurar ajuda e acompanhamento.
Referências:
FREUD, S. Luto e Melancolia. In: ______. A história do movimento psicanalítico, artigos sobre metapsicologia e outros trabalhos (1914-1916). Rio de Janeiro: Imago, Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud , 1996. v.XIV.
PELLEGRINO, Helio. Édipo e paixão. In: NOVAES, Adauto (Org.). Os sentidos da paixão. São Paulo: Companhia das Letras, 1987. p. 311-321.
KLEIN, M. O desmame (1936). In: ______. Amor culpa e reparação e outros trabalhos (1921-1945). Rio de Janeiro: Imago, Obras completas de Melanie Klein, 1996. cap.18.
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