Sobre a função materna

Sobre a função materna

Todo sujeito, independente do seu modelo familiar, passou pela experiência formadora da tríade mãe-bebê-pai de alguma forma. É de entendimento comum e compartilhado pela área da saúde e pelos teóricos do desenvolvimento que a primeira relação e vínculo estabelecido pelo bebê é de extrema importância. A Psicanálise estuda, entre outras coisas, o desenvolvimento psicossexual e um dos fatores formadores é a função materna.

A função materna para a psicanálise vai além da capacidade de gerar um outro corpo dentro de si, ela é responsável por possibilitar uma vida psíquica e subjetiva que vem por intermédio do desejo. É o desejo daquele que ocupa a função materna que irá introduzir o bebê à linguagem e ao simbólico de tal modo que ele também se torne um sujeito desejante.

A adoção dos filhos por parte dos pais, sejam eles biológicos ou não, é imprescindível para a sobrevivência de um recém nascido, atendendo suas necessidades fisiológicas básicas, a formação de uma unidade corporal e na introdução ao simbólico dando sentido aos anseios do bebê.

A relação mãe-bebê é desigual e fundamental. A mãe se coloca a serviço de interpretar a demanda do bebê e lhe oferece o seio, calor ou afeto. Nessa dinâmica há mães que “sabem” do desejo dos seus filhos e outras que deparam com uma angústia na tentativa de responder às necessidades. Além de servir ao bebê a mãe também o faz de objeto para suprir seus próprios desejos e um retorno ao Édipo feminino com o bebê ocupando o lugar do falo simbólico. 

Durante a gestação, além da formação de um novo corpo dentro do seu, a mãe também idealiza o bebê que está por vir. No parto há uma perda dupla, a da completude encontrada durante a gestação e o luto do bebê idealizado para chegada do bebê real. 

A ambiguidade do amor materno também contribui para a formação subjetiva do bebê. O amor totalitário é lapidado abrindo espaço para a diferenciação, possibilitando assim a entrada do pai na relação. O pai surge como aquele que limita a relação mãe-bebê possibilitando amor vivível que surge na separação. Nos primeiros meses o bebê ainda servirá como falo simbólico dessa mãe e aos poucos ele deixa de ser um objeto para se tornar sujeito com o atravessamento da linguagem e a introdução da lei vinda da função paterna. 

A função materna é uma fundamental na formação subjetiva de qualquer sujeito. A mãe além de atender as demandas e necessidades do bebê também busca curar suas próprias feridas narcisistas advindas da sua infância. O pai entra nessa relação como quem busca limitar a relação mãe bebê e ressurgir o desejo da mulher além da mãe.

Vale ressaltar que a função materna é um de vários fatores para o desenvolvimento psicossexual de qualquer sujeito, mas um de extrema importância.  Essa função,  como a paterna, é exercida pelos cuidadores, não necessariamente os pais biológicos ou um casal heteronormativo. 

Autor: 

Conrado Rocha | Psicólogo – CRP 09/15567

Formado em psicologia com ênfase na clínica psicanalítica lacaniana e estudos em sexualidade e gênero.

Assine nossa
newsletter