Reflexões acerca do filme: O Poço

Reflexões acerca do filme: O Poço

Óbvio. Essa é a palavra que Trimagasi diz antes de responder qualquer pergunta que venha de Goreng. Sim, tudo é muito óbvio para Trimagasi, assim como pra nós é óbvio que há uma imensa desigualdade de classes no Brasil, perdendo apenas para países do continente africano e é o segundo país com mais concentração de renda, sendo assim o seu índice de desenvolvimento humano é muito baixo (0,76).
Além de todas as questões sociais que estão expostas no filme de forma tão óbvia, há outras que me chamam atenção.
Por exemplo: Miharu e Imoguiri as duas personagens mulheres na trama, uma delas é Miharu não tem voz e é claramente vista como louca, age de forma instintiva e agressiva a nível de se preservar, é colocada em posição animal onde é a predadora de outros de sua espécie.
A outra é Imoguiri dos três tipos de pessoas citadas no início do filme, ela supostamente é aquela que caiu, da administração ao nível trigésimo terceiro e acredita em solidariedade espontânea porém pouco sabe sobre o que acontece realmente no poço. Tem voz, está dentro da civilização de mal estar que há ali, tenta usar de sua linguagem para tornar as coisas um pouco mais justas ,mas, não é ouvida, o seu desejo só é realizado em partes quando a voz de um homem é falada por ela de forma um pouco tão impositiva. Imoguiri traz outra questão que se trata das dificuldades de quem está ou esteve em lugar de privilégio reconhecer sua posição e por fim acaba sendo devorada como um animal.
Outro personagem é o Baharat, um cara negro que tenta subir os níveis do poço, (os níveis da vida) é enganado, quase morre e não consegue.
Há alguns objetos que chamam nossa atenção como o livro do Dom quixote, um protagonista que perde a razão depois que leu vários livros e romances, porém suas fantasias são sempre desmentidas pela dura realidade. Essa que é trazida no Poço, representada pela faca comprada por trigramagasi que está sempre afiando, representado o sistema opressor e capitalista em que somos inseridos e adoecidos.

Bom, fico por aqui e super indico.

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Autora: POLLYANA BARBOSA | Psicóloga – CRP 09/11182

Psicóloga, especialista em saúde mental atendimento psicossocial e psicanalista. Possui vivências em grupos terapêuticos e psicoeducativos, onde trabalha com habilidades sociais e enfrentamento do estresse. Vasta prática com usuários em uso e abuso de substâncias químicas e outras compulsões como alimentar. Presta atendimento psicológico atuando de forma tática na elucidação de conflitos subjetivos. É idealizadora do projeto loucuras na cidade, cujo o objetivo é trabalhar através de conversação e rodas de conversas a aceitação da própria diferença subjetiva e individualidade coletiva na cidade.

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