O produtivismo acadêmico e o adoecimento discente
Ainda quando crianças somos inseridas, no contexto escolar, em um modelo tradicional de educação, que coloca o professor como figura central do processo educativo, responsável por transmitir os conhecimentos a que ele pertence, sendo o estudante uma figura passiva que recebe esses saberes e os reproduz, principalmente em uma avaliação dada ao término de um conteúdo ou bimestre. Esse é o modelo que norteia, ainda hoje, todas as escolas e cursinhos pré-vestibulares.
Contrariamente (ou não) quando adentramos a universidade somos colocados em uma posição totalmente diferente daquela anteriormente vivenciada. É exigido que você fale, que você produza textos e novos conhecimentos. Aqui, caso você não consiga se pôr a refletir, você não consegue se manter em uma lógica totalmente diferente, ainda que com bases tradicionais de ensino. Embora pareça que essa “imposição” se dê de forma sutil, ela ainda assim é responsável por produzir efeitos nos estudantes de forma arrebatadora.
Quando você se vê em um contexto acadêmico, você se sente, primeiramente, contagiado por um mundo em que professor da aula sem a necessidade de livros a mão (referente, principalmente, aos modos de escola pública); sair da sala de aula sem ter que pedir permissão; ter direito, inquestionável, a 25% de falta; e uma maior flexibilidade na sua matriz curricular.
Entretanto, logo você começa a perceber que esse ensino, que muito se diferencia do ensino médio, também é responsável por te paralisar – totalmente. Você acaba despendendo a maior parte do seu dia (e aí os cursos integrais são extremamente maçantes) para o contexto acadêmico; as obrigações aumentam consideravelmente, pois te é cobrado o tempo todo que você produza, e que todo tanto que você produzir ainda será pouco ou insuficiente para determinada instituição; os finais de semana se apresentam enquanto dedicação exclusiva aos inúmeros trabalhos, relatórios, provas e seminários que você tem que fazer durante a semana – visto que os dias semanais já são cheios com outros afazeres, acadêmicos também; você acaba percebendo que só o contexto de sala de aula não amplia sua formação acadêmica, acabando por buscar espaços outros que permitirão que você tenha acesso a uma prática, a uma bolsa/salário, e até mesmo um acompanhamento psicoterapêutico para reduzir os efeitos desse novo lócus.
Pouco se discute, nesse mesmo ambiente, os efeitos que todas essas produções, que aparecem inicialmente enquanto nocivas ao sujeito, atingem os estudantes. O adoecimento discente é um fato concreto e palpável, o esgotamento psíquico e físico é notório, justamente por não nos permitir um espaço para refletir qual, para que e porque tamanha importância na produção e concentração acadêmica, considerando que a educação que as universidades propõem (ou deveriam propor) é uma educação libertadora e emancipatória.
Em diversos momentos somos questionados se não estamos mais gostando do curso, se não fazemos mais nada – além de estudar – e o porquê, diante todo esse contexto, fazemos faculdade, então. Mas essa não deve ser a problematização, pois envolve uma série de fatores outros que não caberia aqui, o fator central está nas relações que são desenvolvidas no ambiente acadêmico e que nos inviabilizam desenvolver um ensino de uma forma menos angustiante e devassante. Claro que tem inúmeras outras coisas, ainda na universidade, que sentimos prazer em realiza-las, mas as vezes a energia que temos não é suficientemente compatível com esse desejo, e nos vemos e sentindo, mais uma vez, paralisados, sem compreender qual o real sentido de estar no ensino superior, apenas reproduzindo conhecimentos e comportamentos… enfim, adoecidos.