O angustiar-se e a Clínica Daseinsanalítica

O angustiar-se e a Clínica Daseinsanalítica

Para a fenomenologia, a angústia determina ontologicamente o homem como ser-no-mundo; o indivíduo é jogado no mundo e o sentimento de desabrigo assola e este entra no processo de angustiar-se.

Heidegger acreditava que a angústia era capaz de tirar o sujeito do sentimento de decadência e levá-lo a apropriar-se do seu ser. É a partir da angústia que há a possibilidade de libertação, pois o homem está em contato consigo mesmo.

O indivíduo tende a buscar uma sensação de controle da sua vida, e a angústia é uma ameça a este sentimento de tranquilidade e segurança e, ao deparar com o desabrigo, ele se vê abandonado no mundo, entrando em contato com o seu ser-para-morte. Desta forma, o ente compartilha ontologicamente com o ser e não simplesmente interage com a-gente.

Na clínica, o profissional daseinsanalítico precisa compreender que a angústia desperta duas situações: uma leva o paciente/cliente a ter consciência para o sentido e a outra tenta que ele não tenha essa percepção. Cabe então ao analista ser o mais preciso possível e atentar-se à descrição e as interpretações do paciente trazidas ao setting terapêutico. Portanto, se permite que fenômeno apareça tal como se é, o que possibilita o encontro do analisando ao campo intencional em que o fenômeno se constituiu (FEIJOO, 2011).

A angústia traz ao ser, a apropriação de seu ser-si-mesmo-próprio. O ser sai de uma situação de restrição, e o analista em estado de diligência não oferece apenas uma escuta, mas a capacidade de dar a si mesmo com o outro (OLIVEIRA, 2008).

O movimento de facilitar o processo de encontro do indivíduo a si mesmo, faz com que ele reconheça suas bases e não as bases socialmente já estabelecidas (OLIVEIRA, 2008). É importante considerar as possibilidades existenciais daquele indivíduo que está desabrigado e em decadência, pois através destas possibilidades que ele conseguirá ressignificar suas vivências.

Figueiredo (1993) intitula o psicólogo como “profissional do encontro”. O paciente irá aproximar-se à sua existência por meio da relação e do vínculo terapeuta-paciente. Em síntese, a clínica daseinsanalítica. permite que o analisando vá em busca do encoberto e da sua significação, para que consiga compreender o significado ontológico da situação em questão, afastando-se da ilusão e engano o qual estava enclausurado e da verdade que era insuportável.

 

REFERÊNCIAS:

EVANGELISTA, P. E. R. Algumas Reflexões Acerca da Psicoterapia Daseinsanalítica com Pacientes Psiquiátricos.

FEIJOO, A. M. L. C. A Clínica Daseinsanalítica: considerações preliminares. Rev. Abordagem Gestalt. Vol 17. n 1. Goiânia, 2011.

FERREIRA, A. M. C. Culpa e Angústia em Heidegger. Salvador, 2002.

FIGUEIREDO, L. (1993) Sob o signo da multiplicidade. Cadernos de Subjetividade / Núcleo de Estudos e Pesquisas da Subjetividade do Programa, v. 1, no.1, p. 89-95, São Paulo.

OLIVEIRA, L. M. A Prática Clínica Daseimsanalítica: Especificidades. São Paulo, 2008.

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