Atualidades e psicologia

Dia Internacional do Orgulho LBGTQIA+: resistir e acolher

Dia Internacional do Orgulho LBGTQIA+: resistir e acolher

Há 53 anos, em 28 de junho de 1969, acontecia em Nova Iorque a Revolta de Stonewall, quando as pessoas presentes no Stonewall Inn, um bar marcadamente frequentado pela comunidade TLGBIA+*, se rebelaram em resposta à repressão policial num contexto em que todas as identidades de gênero e sexuais que não a cisgenera/heterossexual eram criminalizadas. No ano seguinte, em 1970, reuniam-se 10 mil pessoas para comemorar o aniversário da revolta, fundando a tradição das paradas que costumam acontecer durante o mês de junho e no Dia Internacional do Orgulho LGBTQIA +.

Nesse sentido, uma das funções do Dia Internacional do Orgulho LGBTQIA+ é reverenciar e dar continuidade à luta dessas identidades. No Brasil, alguns marcos dessa luta foram a despatologização da homossexualidade em 1985 (sendo despatologizada pela OMS apenas em 1990), a resolução n° 1 de 1999 do Conselho Federal de Psicologia, a disponibilização do processo transexualizador pelo SUS em 2008 e a despatologização das identidades transexuais e travestis, que ocorreu apenas em 2018. Essas e outras conquistas refletem direta e indiretamente na saúde mental da comunidade TLGBIA+.

Há diversas pesquisas que indicam correlações entre depressão, ansiedade, uso e abuso de substâncias, tentativa de suicídio e ideação suicida, dentre outras consequências negativas para a saúde mental, com o pertencimento à comunidade. No entanto, é importante a compreensão de que tais consequências não advém exatamente de ser TLGBIA+, mas da forma como pessoas pertencentes à comunidade são discriminadas pela sociedade e dos
efeitos do preconceito em todos os aspectos de suas vidas.

Assim, na medida em que há avanços na luta pelos direitos TLGBIA+, há também a promoção da saúde da comunidade. Além disso, a promoção da saúde mental dessa população pode ser potencializada pela Psicologia, inclusive na clínica psicológica. Mas para que isso ocorra é necessário um verdadeiro acolhimento e inclusão dessas
subjetividades. Isso se torna possível com a adoção de diversas medidas, como:

● abandonar ideias e práticas pautadas na concepção de que o “natural” é ser uma pessoa cisgenera (que se identifica com o gênero que lhe foi imposto no nascimento) e heterossexual (que se atrai exclusivamente pelo gênero oposto dentro do binário homem-mulher);
● compreender que a experiência humana abarca diversas configurações de gênero e sexualidade, e que elas não se tratam de “desvios”, mas de possibilidades;
● entender que todas as pessoas possuem lugares de fala, marcadores sociais e privilégios, e que é necessário situar-se neles e reconhecê-los para evitar (re)produzir violências dentro da clínica psicológica;
● compreender que existe uma interdependência das relações de poder e das opressões, chamada de interseccionalidade. Dessa forma, a opressão contra pessoas TLGBIA+ e seus efeitos vão ser diferentes devido à interação com os marcadores sociais de raça, etnia, classe etc.

Em conclusão, o Dia Internacional do Orgulho LGBTQIA+ coloca em pauta a luta da comunidade pela defesa de seus direitos, luta essa que reverbera dentro e fora da clínica psicológica. Mais do que uma data comemorativa, trata-se de uma data que marca a resistência das pessoas TLGBIA+ frente ao preconceito e a opressão.

*Na atualidade, o termo mais comumente utilizado para denominar a comunidade TLGBIA+ é LGBTQIA+. No entanto, optou-se por usar o termo “TLGBIA+” ao longo do texto devido a compreensão de que transexuais e travestis estão historicamente na linha de frente na luta pelos direitos da comunidade e, portanto, devem também estar à frente da sigla. Além disso, a letra Q foi omitida visto que “queer” refere-se a identidades localizadas ao norte do globo.

Mariana Machado | Psicólogue – CRP: 09/15516

Uso da fotografia como ferramenta terapêutica. Formação pessoal e clínica voltada para pessoas transexuais, travestigêneres e LGBIA+.

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