Adoção: expectativa x realidade

Adoção: expectativa x realidade

“Quando eu tiver um filho vai estudar em tal escola”, “vou colocar para fazer aula de tal língua”, “vamos assistir jogo de futebol juntos”. Independentemente de serem filhos biológicos ou adotados a verdade é que a partir do momento que uma pessoa ou um casal começam a gestar a ideia de adotar uma criança, acontece a idealização do filho, mesmo que de forma inconsciente. 

De fato, os pais tem pouco ou quase nenhum controle sobre as características de sua prole, não podendo determinar se será introspectivo ou brincalhão, qual será a cor dos olhos ou se terá alguma dificuldade motora ou sensorial. Sendo na adoção, um dos primeiros e principais passos: a escolha do perfil (como idade, sexo, etnia, se aceita irmãos ou não, com doenças tratáveis e/ou não-tratáveis, dentre outras) como seu filho virá a você ainda é algo carregado de expectativas e surpresas. 

O luto pelo filho ideal é um processo que todos os pais podem passar, independentemente do tipo de laço que os uniu. Estar aberto a acolhida, ter empatia de se colocar ao lado do outro para aceita-lo em sua integridade para além de suas expectativas, pode ser o diferencial para uma família resiliente. É claro que, quanto mais precisos os adotantes forem na entrevista com a equipe técnica responsável pelo processo, menor a possibilidade de frustração pois parte-se do pressuposto que o adotante tenha refletido e esteja bem seguro acerca de suas limitações e desejos. Acordos prévios como com quem fica a criança em caso de necessidade de ausência, se há rede de apoio para situações adversas, como será a nova rotina, tudo isso tem que ser acertado antes. 

Participar de grupos de apoio para trocas de experiências também são importantes nesse processo. Porém, enquanto há toda essa expectativa dos pais adotantes e todo um processo legal e burocrático acontecendo (que vai desde a destituição do poder de família biológica à adoção propriamente dita) do outro lado também há expectativas e desejos tão ou mais importantes quanto: a expectativa da criança à espera de um lar, de uma família. Será que essa família é a família que ela esperava? “E se não gostarem de mim? ” “ E se me devolveram ao abrigo? ” A criança também precisa adotar esses pais e muitas vezes isso pode ocorrer de forma lenta, gradual e instável. A criança carrega consigo sua história de vida, sua bagagem emocional e pode levar tempo para de fato “adotarem” os cuidadores como pais. Será que os pais conseguirão fazer numa leitura correta de que aquela “malcriação” pode na verdade ser um teste para saberem o quanto me amam e me aceitam mesmo?! “Será que faço parte mesmo dessa família para o que der e vier?!” É dos adotantes que se espera o primeiro passos para a compreensão e essa, pode começar por uma atitude básica, em não desprezar a família biológica do filho, uma vez que esse desprezo pode ser entendido por ele como um desprezo a si próprio afim “sou parte deles também”. Isso não significa romantizar as adversidades vividas que o trouxeram até aquele momento, mas ter consciência que nossa origem faz parte de quem somos. Portando aos pais adotivos, é confiado o reconhecimento e humanização da história de seus filhos para que eles também possam ressignifica-la entendendo assim o valor da família em sua vida.

Melissa de Paula | Psicóloga – CRP 09/3674

Psicóloga, especialista em Terapia Sistêmica de casal e família com experiência em atendimento a adolescentes.

 

 

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