A Solidão do Obeso
Existe enorme sofrimento e solidão nas pessoas com obesidade. Sentem-se inadequadas em uma sociedade com tantos padrões de beleza pré-estabelecidos em que o diferente, na maioria das vezes, é avaliado e excluído. Normalmente, a julgam como culpada pela obesidade ou digna de dó, como se “ser gordo” definisse sua totalidade como sujeito.
Ser gordo ganha um significado embasado em julgamento moral de preguiça, descuido e indisciplina. A obesidade, na sociedade contemporânea, não é apenas uma doença que aflige o homem, mas também o exclui do “imaginário popular de uma estética socializada” (SICHIERI, 1998, p.15 apud ZOTTIS e LABROMICI, 2003). Vivemos em uma sociedade em que a comparação está presente em todos os contextos, sempre enaltecendo os iguais e as maiorias; e rejeitando os diferentes e as minorias.
O ato comparativo persiste em nossas relações, mesmo mudo ou aparentemente inocente. Comparamos o tempo todo: o desempenho no trabalho, as relações familiares, as amizades, as habilidades pessoais, as relações amorosas, sexuais, lugares, desempenho esportivo. Chegamos a um ponto em que não é mais possível distinguir na vida diária, se a comparação é uma característica humana ou uma derivação da convivência social capitalista. (TORRES,2011, P.181)
A pessoa com obesidade, nesse contexto, vai construindo barreiras, se isolando e desencadeando um sentimento de inadequação, de um olhar distorcido para si mesma, como se não fosse suficientemente boa para a sociedade. Torres (2011, P.181) afirma que é do ato comparativo que surge o sentimento de inadequação, que está subentendido que o indivíduo inadequado é ruim e doente e o adequado, bom e saudável. Essa busca de aceitação por parte do obeso, segundo Torres (2011 p.200) faz com que essas pessoas queiram se adequar, pois estão identificando a existência de um desnível na relação com o mundo e com o outro e concluem que esse problema está com ela e a solução é nivelar-se, para se igualar ao outro, procurando assim meios de ficar igual, de se corrigir; fenômeno que o autor denomina de Nivelamento da Subjetividade. No momento que o sujeito quer ser igual, pode se perder de si mesmo, podendo surgir vários transtornos psicológicos, como ansiedade, depressão, compulsões alimentares e dependência química.
Tanto sofrimento e busca por aceitação faz com que as pessoas obesas procurem soluções para se sentirem incluídas, como dietas muito restritivas, cirurgias plásticas, medicamentos, cirurgia bariátrica dentre outros métodos em que o sujeito não tem consciência da proporção de suas decisões. Qualquer que seja a solução para seu sofrimento, ela deve buscar ajuda de profissionais comprometidos com o seu bem-estar integral, nas esferas biopsicossocial, pois a obesidade afeta o sujeito em sua totalidade.
A obesidade é uma doença multifatorial, desencadeada por fatores físicos, genéticos, psicológicos e ambientais, tornando impossível combatê-la focando em apenas um de seus aspectos. Ela deve ser tratada de maneira interdisciplinar que envolve profissionais de várias áreas da saúde.
A Psicologia deve ter um olhar especial para a subjetividade da pessoa com obesidade, respeitando suas marcas, dores e significados que esse corpo obeso tem na sua existência, pois o corpo é nosso instrumento para ser- no- mundo. Para Merleau-Ponty (apud ZOTTIS E LABRONICI, 2003), é a partir do corpo que se pode estar no mundo em relação com os outros e com as coisas, o corpo e o mundo estão entrelaçados e são constituídos pelo mesmo tecido.
A Psicologia tem um papel amplo e fundamental no enfrentamento da obesidade, atuando em vários aspectos da vida dessa pessoa. No aspecto no pessoal, com intuito de entender esse sujeito, de como ele lida e vivencia a obesidade, identificar e tratar condições psicológicas como ansiedade, depressão, autoimagem, compulsões, autoestima, auxiliá-lo na mudança de hábitos; no âmbito social, com ações que venham diminuir o estigma e o preconceito social em torno da obesidade; e no familiar, com a psicoeducação, orientando a família a melhor maneira de auxiliar e se envolver no processo da doença.
Entende-se assim, que a psicologia visa acompanhar esse indivíduo durante todo processo, em qualquer que seja sua escolha: continuar gordo, ou se submeter a recursos que mudem sua condição de obesidade. Tendo sempre o respeito e compreensão da maneira de ser e existir no mundo desse sujeito que teve a obesidade ora como figura (protagonista), ora como fundo (coadjuvante) no decorrer da sua vida, mas sempre presente.
Referências bibliográficas
ZOTTIS, Carolina; LABRONICI, Liliana Maria. O corpo obeso e a percepção de si. Universidade Federal do Paraná- Setor de Ciência e Saúde. Curitiba. 2003.
ANGERAMI, Valdemar Augusto et al. Psicoterapia e Brasilidade. 1ªEdição. Editora Cortez.São Paulo.2011.