Alguns apontamentos sobre a obesidade
Segundo pesquisas, 1 em cada 5 brasileiros tem algum grau de obesidade, e os outros 4 com certeza convivem com alguém que lute contra a obesidade. Mas você sabe o que é a obesidade? Quando falamos de obesidade, seja ela que grau for, estamos falando de qualidade de vida e de saúde, tanto física quanto psíquica. Quais fatores levam o sujeito a ganhar peso progressivamente? O que está implicado no aumento do apetite desse sujeito e na dificuldade de encontrar uma medida para esse? Qual a melhor forma de orientar o obeso que busca a perda de peso?
Não podemos simplesmente dizer ao sujeito nessa condição que ele deve comer menos, ou lhe passar uma “dieta” saudável bem restritiva e exercícios regulares, entre outras condições que acabamos por delegar ao indivíduo na esperança que ele consiga perder peso. É preciso, antes de tudo, compreender o significado deste peso para o indivíduo, e investigar o que existe por trás do desejo pela comida e do próprio ganho de peso. Como este indivíduo percebe seu próprio peso? Será que o outro tem condições de apontar uma solução? E se sim, será que tem o direito de o fazer?
A obesidade vai muito alem do maus hábitos alimentares e sedentarismo, ela tem um significado intrínseco ao indivíduo, que na maioria das vezes encontra sua identidade nela. Não podemos esquecer do sofrimento psíquico, das questões que o sujeito traz dentro de si. Nesse sentido, é importante que esse sujeito seja assistido por vários profissionais, de múltiplas áreas, sem negligenciar nenhuma delas, todas com seu grau de importância.
Tornar-se obeso pode ter implicações que o próprio paciente não consegue dizer conscientemente, é preciso que seja norteado nessa busca. No entanto, alguns comportamentos vão se tornando hábitos de difícil mudança, incluindo hábitos familiares. Assim, é importante que, no desejo de mudança de uma pessoa nessa condição, a família se envolva no processo, dando sua contribuição para que o sujeito consiga alcançar seu objetivo. A tarefa não é fácil, mas com o suporte familiar, a jornada pode ser mais leve. O paciente obeso está sofrimento psíquico constante, e por muitas vezes não consegue controlar o que leva à boca, o que engole do mundo. Muitos já tentaram várias saídas na tentativa de mudar sua situação, e a cirurgia bariátrica pode ser seu último recurso.
Apesar da cirurgia bariátrica oferecer uma situação real de “redução” física da capacidade de armazenar aquilo que se come, isso não quer dizer que será simples, pelo contrário, pode ser um caminho muito doloroso, principalmente porque o sujeito estará impedido, decididamente, de satisfazer seus anseios através da comida. Assim, devemos redirecionar essa energia, investida no ato de comer, para outra área da vida desse sujeito, algo que possa lhe dar prazer tanto quanto o ato de comer, um prazer diferente, novo, e isso só será possível através de um processo psicoterápico/psicanalítico, onde ele terá a oportunidade de ressignificar sua questão com o alimento. O sujeito precisará se reinventar, e nesse processo, necessitará da contribuição de todos ao seu redor, a participação desses é de grande importância.
Emagrecer não é uma tarefa simples, mas totalmente possível. Ademais, manter-se obeso também não é algo simples, o sujeito perde em qualidade de vida, em auto estima, em mobilidade, em saúde (física e psíquica) e em muitas outras áreas que podem lhe ser importantes em sua singularidade. Assim, vamos encarar o tratamento para o sujeito obeso como uma luta de dentro pra fora, que vai exigir muito dele, e todo suporte pode ser bem vindo.
Márcia Freire | Psicanalista