Envelhecimento: Desafios e Possibilidades
O envelhecimento vem se tornando um aspecto amplamente discutido, o que se deve a maior longevidade dos indivíduos. A proporção da pirâmide populacional vem se alterando ao passar dos anos, em razão do aumento da população idosa em relação à população total, bem como por avanços na medicina e melhorias da qualidade de vida.
O significado de envelhecimento varia de uma sociedade para outra, levando em conta as diferenças culturais existentes entre o universo simbólico, a forma de atuação e organização dos membros entre eles e com o meio (Lima e Viegas, 1988). Isto é, variam conforme os tempos históricos, as culturas e subculturas, as classes sociais, as histórias de vida pessoais, as condições educacionais, os estilos de vida, os gêneros, as profissões e as etnias, dentre outros elementos darão delineamento ás trajetórias de vida dos indivíduos e de seus grupos.
Assim, essa heterogeneidade da velhice aparece, entre outros pontos, na maneira como as pessoas vivenciam este momento de suas vidas, como construíram e continuam elaborando o seu processo de envelhecimento, bem como na forma em que os idosos se percebem e como percebem os demais indivíduos a seu redor (Barros, 1998). Assim, o envelhecimento, quando visto sob uma ótica resiliente, pode ser interpretado como resultado vitorioso de um desafio contínuo no aumento da longevidade, por meio não apenas dos avanços científicos, mas associados a melhores níveis de qualidade de vida (Veras,2003).
Os desafios enfrentados pelos que envelhecem
Na velhice, observa-se uma desarmonia, onde as perdas se concentram em uma proporção superior aos ganhos, ou seja, aquilo que se perde, é mais visível e os ganhos, muitas vezes são despercebidos ou desvalorizados, quando comparados ao impacto das perdas. O sujeito passa a sofrer privações das sensações (limitações visuais, auditivas…), da motricidade, surgem comprometimentos da saúde em geral e ocorre a perda do viço, da beleza que ainda era presente na fase adulta. Estas perdas causam grande impacto e ressignificações ao individuo em relação a si próprio e ao meio em que está inserido e pode acarretar em ansiedade, fragilidade emocional, colocando o idoso em situações de dependência, situações de pânico, depressão, não aceitação, ressentimentos e até mesmo agressividade.
O envelhecimento é socialmente entendido e encarado como um processo que se desenvolve trazendo como consequências uma série de limitações crescentes, perdas físicas e de papéis sociais e uma trajetória que vai se aproximando gradualmente da morte.
O idoso se depara com o esvanecimento de suas relações interpessoais, limitação da sua capacidade física, falta de capacidade para o trabalho, sendo a morte biológica somente a última etapa de um processo mais complexo ( Léger e cols, 1994). Enfrentar todas essas perdas, através do silêncio, não expondo sofrimento e nem dialogando a respeito, pode tornar o luto um processo ainda mais doloroso, temeroso, que promove o desenvolvimento de dores físicas, emocionais e psicológicas (Parkes, 1998). Além disso, outra perda comum nessa etapa da vida e evidente, é a falta de projetos e/ou oportunidade de adesão a projetos culturais, o que aumenta a dificuldade de superar sofrimentos e perdas. (Silva et al, 2012).
Desta forma, a complexidade e a heterogeneidade de vivenciar as perdas e de enfrentar o luto reporta a uma gama de fatores, que, variam de uma série de relações do idoso em questão, a relação com ele mesmo e com sua história de vida, sua personalidade, os recursos emocionais e financeiros que dispõe, vínculo com outras pessoas, cultura. A avaliação que a pessoa faz do problema determina como irá enfrentá-lo, sendo influenciado pelas demandas ambientais e crenças individuais. (Neri,2005).
Diante de tantas possíveis angústias inerentes ao envelhecimento humano, torna-se válido, a perspectiva de que, uma velhice se torna mais saudável e feliz, através de uma atitude resiliente de conscientização e entendimento do declínio de sua capacidade física, própria do tempo vivido. Embora, ainda se perceba de maneira ativa e criativa ao ponto de se sentir disponível e capaz de produzir algo, se ocupar, dentro das limitações que foram acarretas devido a idade.
As possibilidades que existem aos que envelhecem
A velhice pode ser experienciada de maneira leve e saudável, quando levada com criatividade e curiosidade, quando há plenitude no presente.
O envelhecimento bem sucedido é caracterizado como um processo de adaptação descrito como otimização seletiva com compensação (Baltes, 1997). Ou seja, buscar aumentar suas potencialidades frente à crescente limitação biológica imposta, otimizando recursos e compensando perdas. Esse processo de adaptação consiste em maximizar as possibilidades individuais, reorganizando a vida perante as limitações percebidas, ajustando-se às diversas situações, individualmente ou com a ajuda de outros. É um processo contínuo de atualização das potencialidades pessoais e de aprender a viver com as limitações, explorando e utilizando ao máximo seus recursos disponíveis como fatores de proteção. (Silva e Varela, 1999).
O equilíbrio do idoso e seu ajustamento ambiental dependem dos seguintes fatores: um contato social suficiente; uma ocupação cheia de significado; certa segurança social; e, um estado de saúde satisfatório. Desta forma, um envelhecimento saudável está atrelado a uma infância e a uma vida adulta vividas de maneira saudável, está em viver o momento presente e aceitar cada etapa com seus benefícios e impasses, sem expectativas exageradas para o futuro ou apego em demasia ao vivido. O viver no espaço sagrado do agora, no instante que contém todas as possibilidades de felicidade e amor, sem se prender ao passado ou viver a expectativa do futuro (Kessler, 2004).
O contexto social, também é de imprescindível valor, aproximar-se de pessoas, estreitar laços familiares e construir relações de amizade, participar de grupos e atividades com que se identifique, no intuito de se manter ativo e sociável. Quanto à personalidade, fatores consideráveis que auxiliam em um envelhecimento saudável estão a extroversão, autoeficácia, resiliência frente aos desafios. As relações interpessoais têm o potencial de favorecer a autoeficácia e a saúde na velhice (Nogueira et al. 2009).
É importante que as pessoas que se relacionam com idosos, estimulem a iniciativa, independência e superação de desafios dessas pessoas, auxiliando na ampliação de sua qualidade de vida e a preservação da saúde mental.
Autora:
Olívia Rodrigues da Cunha – Psicóloga – CRP 09/10114
Psicóloga formada pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás (2015) , com ênfase em Psicologia Clínica. Especialista em Saúde Mental (UNYLEYA, 2016) e Mestranda bolsista pela CAPES, em Psicologia com ênfase em Psicopatologia Clínica e Psicologia da Saúde. Experiência clínica em manejo de ansiedade, terapia de casal e transtorno de personalidade borderline.
Imagens: retirada do google imagens
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BALTES, P.B. On the incomplete architecture of humam ontogeny: selection, optimization, and compensation as foundation of developmental theory. American Psychologist, 52(4), 366-380. 1997
BARROS, M.M.L. Velhice ou terceira idade? Estudos antropológicos sobre identidade, memória e política. Rio de Janeiro (RJ): Editora FGV. 1998
KESSLER, D. . A lição da Perda. Em E. Kübler-Ross & D. Kessler.
Os segredos da vida. (pp. 70-89). Rio de Janeiro: Sextante.2004
LÉGER, J.M., TESSIER, J.F. & MOUTY, M.D. Psicopatologia do
envelhecimento: assistência às pessoas idosas. Petrópolis, RJ: Vozes. 1994
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LIMA, A.P. de & VIEGAS, S.de M. A diversidade cultural do envelhecimento: a construção social da categoria velhice. Psicologia: Revista da Associação Portuguesa de Psicologia, 6(2). 1988
NERI, A. L. Palavras-chave em gerontologia. 2. ed. Campinas, SP: Alínea. 2005
NOGUEIRA, E. Rede de relações sociais e apoio emocional: pesquisa com idosos. Iniciação Científica CESUMAR, Maringá, v. 11, n. 1, jan./jun, p. 65-70. 2009
PARKES, C. M.Luto: estudos sobre a perda na vida adulta. São Paulo: Summus, p. 290. 1998
SILVA, M. J.; VARELA, Z. M. V. O conceito de adaptação na terceira idade: uma aproximação teórica. Arquivos de Geriatria e Gerontologia, Rio de Janeiro, v. 3, n. 1, p. 25-29. 1999
SILVA, M. D. F.; FERREIRA ALVES, J. O luto em adultos idosos: natureza do desafio individual e das variáveis contextuais em diferentes modelos.Psicologia: Reflexão e Crítica, v. 25, n. 3, p. 588-595.2012
VERAS, R. (2003). Perfil demográfico da população idosa no Brasil e no Rio de Janeiro em 2002.Textos sobre Envelhecimento, 6(1), 43-59. 200