Relacionamento terapêutico: são válidas as emoções sentidas pelo terapeuta?
O atendimento clínico em Psicologia tem por premissa o foco no comportamento do cliente, sendo que análises funcionais tendem a excluir a pessoa do psicólogo. Analisar um comportamento significa compreender sua função, que pode variar de um indivíduo a outro, entre situações e no tempo, Linehan (1988) entende o relacionamento terapêutico como um processo transacional no qual o psicólogo e o cliente exercem e recebem influências recíprocas que podem ser carregados de sentido para ambos, além de promover mudanças, tanto no terapeuta quanto no cliente.
Os sentimentos do terapeuta tem um papel de destaque em modelos de psicoterapias atuais, sobretudo para as comportamentais da Terceira Onda que valorizam estratégias de aceitação e atenção plena e o relacionamento pessoal construído entre terapeuta e cliente (por exemplo, Linehan 1993; Pierson e Hayes 2007; Tsai et al. 2012). Sendo assim, para ajudar seus clientes, o terapeuta precisa antes de tudo, envolver-se com eles numa relação de aceitação, precisa se deixar tocar e se deixar mudar para então, auxiliar no processo de mudança de seus clientes.
Quando ambos, terapeuta e cliente reforçam comportamentos vulneráveis à punição interpessoal, uma relação íntima bidirecional está sendo construída. Uma boa relação terapêutica se atribui a características e habilidades pessoais do terapeuta, este deve estar atento tanto aos seus próprios comportamentos privados (emoções e pensamentos), quanto aos comportamentos do cliente que os evocam, para assim poder realizar uma análise funcional do que está acontecendo na sessão (Banaco,1993).
Então, esse profissional deve estar habilitado não só para aplicação de técnicas, mas também para assumir a responsabilidade de construir uma relação que seja em si terapêutica e esse envolvimento acarreta em uma vulnerabilidade pessoal. Durante as sessões é comum, os terapeutas experimentam situações de fortes emoções evocadas em grande parte pelo comportamento do cliente. Em outros momentos emoções podem ser produto de crenças irracionais e premissas do terapeuta sobre a vida, sobre relacionamentos ou sobre outros assuntos que venham á tona durante a interação com o cliente (Freeman et al, 1990). Cabendo ao terapeuta discernir o que evoca tais emoções e elaborar estratégias que possibilitem que tais emoções sejam trabalhadas e não prejudiquem o processo terapêutico e sim, o beneficie.
Autora:
Olívia Rodrigues da Cunha – Psicóloga – CRP 09/10114
Psicóloga formada pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás (2015) , com ênfase em Psicologia Clínica. Especialista em Saúde Mental (UNYLEYA, 2016) e Mestranda bolsista pela CAPES, em Psicologia com ênfase em Psicopatologia Clínica e Psicologia da Saúde. Experiência clínica em manejo de ansiedade, terapia de casal e transtorno de personalidade borderline.
Imagem: capturada no Google Images
Referências Bibliográficas:
Banaco, R. A. (1993) O Impacto do atendimento sobre a pessoa do terapeuta. Temas em Psicologia, v. 1, n. 2, p. 71-80.
Freeman, A., Pretzer, J., Fleming, B., & Simon, K. M. (1990). Clinical applications of cognitive therapy. New York:
Plenum Press Linehan, M. (1993). Cognitive-behavioral treatment of borderline personality disorder. New York: Guilford.
Linehan, M.M. (1988). Perspectives on the interpersonal relationship in behavior therapy. Journal of Integrative and Eclectic Psychotherapy,7, 278-290
Pierson, H., & Hayes, S. C. (2007). Using acceptance and commitment therapy to empower the therapeutic relationship. In P. Gilbert & R. Leahy (Eds.), The therapeutic relationship in the cognitive behavioral psychotherapies (pp. 205–228). London: Routledge. Tsai, M., Kohlenberg, R. J., Kanter, J. W., Holman, G. I., &
Loudon, M. P. (2012). Functional analytic psychotherapy: Distinctive features. Hove: Routledge