Obesidade versus Saúde
Durante anos, a obesidade de um indivíduo era caracterizada como sendo uma consequência da falta motivacional em perder peso. Era como se fosse um problema de gente preguiçosa e fraca. Ainda nos dias de hoje, muitos a enxergam dessa forma. Porém, com o avanço das descobertas etiopatogênicas (causas/mecanismos de desenvolvimento de uma patologia), esta visão vem se modificando a partir do momento que a mesma passa a ser considerada como uma doença crônica e com etiologia multifatorial (de causas diversas). Isso quer dizer que pode estar associada com fatores genéticos-biológicos, endócrinos, psicológicos, psiquiátricos, ambientais e sociais.
A obesidade pode ser de origem endógena ou exógena. Quando se trata da primeira, é preciso identificar a patologia e iniciar o tratamento. Por outro lado, a segunda está relacionada ao desequilíbrio entre ingestão e gasto calórico. E na grande maioria das vezes, é originada pelo desbalanço energético. Ou seja, quando se consome mais energia do que se gasta, resulta-se em ganho de peso. Bom, então vamos entender um pouco mais sobre isso.
Como saber se uma pessoa está obesa?
O modo mais prático e mais utilizado de medida é o cálculo do Índice de Massa Corporal (IMC). O mesmo é estimado pela relação entre o peso e a altura do indivíduo. A partir do resultado desse cálculo é que se pode visualizar o nível de obesidade no qual o indivíduo se encontra.
IMC (kg/m2) | Classificação |
< 16 | Magreza grau III |
16.0 – 16.9 | Magreza grau II |
17.0 – 18.4 | Magreza grau I |
18.5 – 24.9 | Adequado |
25.0 – 29.9 | Pré-obeso |
30.0 – 34.9 | Obesidade grau I |
35.0 – 39.9 | Obesidade grau II |
>= 40 | Obesidade grau III |
É importante ressaltar que, um aumento de 30% ou mais acima de seu peso corporal ideal significa que o excesso de peso tornou-se um risco à saúde.
Quais os riscos?
A obesidade é marcada por acúmulo excessivo de gordura corporal, a qual pode provocar/acelerar o desenvolvimento de muitas outras doenças (como hipertensão, a hipercolesterolemia, o diabetes, as doenças cardiovasculares, algumas formas de câncer, a colelitíase, problemas articulares, acidentes etc). Estes aspectos interferem na duração e qualidade de vida do indivíduo, na formação de novas amizades, na sexualidade, na conquista de um novo emprego, como também servem de subsídio para a exclusão social quando o mesmo se encontra fora dos padrões estéticos determinados pela sociedade contemporânea, gerando diversas consequências psicológicas negativas.
Porque existem tantas pessoas obesas?
Em 2006, o índice de excesso de peso no Brasil era de 43%. Hoje essa porcentagem já passa de 52,5% da população brasileira. Deste número, 17.9% está obesa. Os homens ainda lideram os números, com 56,5%, e as mulheres somam 49,1%. E o que mais assusta é a velocidade com que essas porcentagens crescem nas últimas décadas. O estilo de vida da população moderna determina um padrão de alimentação que vai contra ao que se considera saudável. E tudo se torna um empecilho quando se trata de levar uma vida mais leve: rotina familiar, trabalho, o estress e ansiedade diários, compromissos, falta de tempo. Além destes, poderíamos citar N outros fatores.
Crianças obesas
Na década de 70, apenas de 3 a 5% das crianças apresentavam aumento de peso. Esse número já quintuplicou. Não se pode deixar de mencionar o fator genético, mas existem multifatores para o desenvolvimento da doença ainda na infância, principalmente no que se refere a hábitos alimentares, nos quais, pais e responsáveis tem culpa. As crianças se baseiam no padrão alimentar adotado dentro de casa e, por seguir o exemplo, acabam por se tornarem reflexo do que os adultos comem.
Percebemos um abandono dos parques, das brincadeiras de rua, das atividades que exigem mais do corpo. Crianças estão cada dia mais trancafiadas, entretidas com brincadeiras que, para alívio dos pais, não dão preocupação alguma. Vídeos games, televisões, celulares e computadores tomam lugar. E tomam tempo. E muito tempo! Ótima pedida para quem quer se ver livre dos filhos ou livrá-los da violência urbana.
Mas não vou falar em todas as outras problemáticas que podem estar associadas a essa nova configuração na rotina da criança. Estamos falando de obesidade! E como vai estar essa criança daqui a alguns meses e anos? 8, 10, 12 horas em frente a uma tela de computador não são suficientes. Ficar diante do computador com um sanduíche, um refrigerante e um doce pra arrematar é beeeem mais interessante! E com certeza, vão render alguns quilos. Provavelmente muitos quilos!
Porque as pessoas possuem conhecimento e continuam com maus hábitos?
Quem já fez milhões de dietas e já tentou de vários métodos para emagrecer, sabe que é de uma dificuldade extrema separar emoção de comida e afeto de fome. Essas pessoas já cansaram de contar calorias, de anotar nos seus diários quantas folhas de alface comeram no dia, já frequentaram diversos médicos e nutricionistas, já tomaram todos os remédios possíveis, pagaram o plano mais longo oferecido pela academia próxima de casa. Normalmente, essas pessoas nem ocupam mais esses lugares por estarem sempre no processo de recaída e a reincidência é grande. Elas já decoraram o que vão lhe dizer e já sabe que nada disso vai resolver.
Mas o que elas não sabem é que a obesidade está associada a muitos fatores que, grande parte das vezes, não são levados em consideração. A inatividade física aliada a dietas consideradas “não saudáveis” também têm elevado ainda mais as doenças não-transmissíveis (incluindo as cardiovasculares, diabetes tipo 2 e alguns tipos de câncer).
Quais providências tomar então?
Pode parecer até óbvio para você que já cansou de escutar de tantas outras pessoas o que se deve fazer para acabar e tirar definitivamente isso da sua vida ou da vida de um indivíduo próximo a você. Mas a propósito, ninguém dorme e acorda no outro dia com 20, 40, 50 ou 100 quilos a mais ou a menos. A obesidade não entrou na sua morada sem que houvesse dado permissão à ela, salvos os raros casos em que se identificam um defeito em um único gene que provocam um quadro de obesidade que já se inicia na infância.
É importante levar em consideração os genes na regulação do apetite, na aptidão e na volição quando se fala de exercícios físicos, mas os mesmos não podem ser usados como justificativa para escolhas inconsequentes na alimentação. Portanto, se ela está na sua casa, na sua família, nos seus amigos, então é preciso olhar com cautela para sua história de desenvolvimento.
Obesidade e compulsão alimentar são a mesma coisa?
Tenho que dizer que não. Podem se coincidir, mas não se pode ver a olho nu esta distinção. Exemplo: Uma pessoa considerada “gorda” pode manter um peso estável durante anos e não ser compulsiva. E, por outro lado, pode existir uma pessoa magra diante dos padrões normais que se mantém numa dinâmica compulsiva. Dessa forma, a obesidade se caracteriza por parâmetros quantitativos (quanto se pesa, o que se come e quanto se come). Quando se trata de compulsão alimentar, os critérios passam a ser qualitativos (como se come, como a pessoa se sente quando come e o sentido dado pelo corpo ao comer).
Algumas considerações sobre os transtornos alimentares
Na base de qualquer transtorno alimentar está a compulsão por comida, principalmente quando se enxerga sintomas relacionados à alternância de peso, momentos de privação e abuso de comida e pensamentos obsessivos. Como eu já havia dito, as pessoas vivem suas vidas em busca de se encaixarem em padrões irreais de beleza, situação que gera uma tropa de guerreiros frustrados. Essa busca incessante pela vitória acaba por aumentar as chances da pessoa caminhar rumo à um transtorno alimentar, principalmente quando se trata de compulsão alimentar, anorexia nervosa e bulimia, as quais a incidência é grande e que prevalece entre o público feminino.
“Já tentei tudo, mas nunca fui ao psicólogo. Pra quê?”
O profissional de psicologia pode te ajudar! O acompanhamento terapêutico pode ser um facilitador para que você desenvolva um olhar analítico/crítico do contexto no qual se encontra e contribuição na tomada de decisão. É um processo a longo prazo que necessita de uma atenção integrada, oferta de cuidados de saúde e o empoderamento para o autocuidado. Dessa forma, é possível preservar/cultivar/recuperar uma boa qualidade de vida de maneira responsável, autônoma e livre nas escolhas de ferramentas para a sua realização. Ou seja, vai além e pode ser muito mais eficaz do que, simplesmente, manter velhos hábitos e continuar tomando remédios para acabar com a fome. Até porque, muitos desses famosos remédios tiram a fome, mas não a vontade de comer. O que é bem diferente!
Nas nossas vidas, sempre precisamos fazer uma faxina pra deixar tudo asseado, organizado, mais bonito e confortável. Retiramos tudo aquilo que está entulhando os armários, gavetas e estantes para darmos lugar às coisas novas, ou simplesmente para desafogar o ambiente. O que não serve mais a gente joga fora, o que está enferrujado a gente dá um jeito de lavar, as prateleiras empoeiradas damos um jeito de limpar, as roupas a gente doa, os lençóis a gente troca. Mas até para faxinar é preciso força de vontade e coragem. Recomeçar e nos livrarmos daquilo que não precisamos mais é difícil e requer determinação. Muitas coisas trazem boas recordações, mas outras simplesmente não haviam saído dali ainda porque desapegar é complicado mesmo. Leva tempo para finalizar, mas chega uma hora que está tudo pronto. O problema é que não dá pra fazer isso um dia só. É preciso manter a arrumação diariamente, porque se isso não for feito, com o tempo a bagunça estará novamente instalada. E, à propósito, como anda a faxina no seu corpo?
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Imagem: Extraída do Google Imagem
Sobre a Autora
Taís Pereira Dantas, é psicóloga (CRP 09/10025) graduada pela PUC Goiás (Brasil), pós-graduanda em Avaliação Psicológica pelo Incursos (Brasil). Psicóloga da Rede Goiana de Psicologia, realiza atendimentos domiciliares através da abordagem Humanista-Existencial Fenomenológica.