Atualidades e psicologia

Existem espaços seguros para pessoas LGBTQIA+ mais velhas?

Existem espaços seguros para pessoas LGBTQIA+ mais velhas?

A comunidade LGBTQIA+ vem de uma trajetória marcada pela luta. Lutamos para sermos respeitadas, reconhecidas e para existirmos com dignidade. Ainda não vivemos a plenitude das nossas individualidades, é verdade , mas conquistamos muito.

Essas conquistas, porém, só foram possíveis porque as pessoas vieram antes de nós. Gente que abriu caminhos com o próprio corpo, com o silêncio, com o exílio, com coragem. A pergunta que fica é: será que essas pessoas estão sendo reconhecidas por isso?

O etarismo existe, inclusive dentro da comunidade.

É duro dizer, mas o etarismo se impõe dentro da própria comunidade LGBTQIA+. Pessoas mais velhas, que foram resistência viva em tempos de repressão, hoje muitas vezes são deixadas à margem. São esquecidas, invisibilizadas, desautorizadas.

E o mais grave: esse etarismo nem sempre se apresenta como preconceito direto. Ele aparece disfarçado de “gosto pessoal”, de “preferência”, de discursos sobre estética ou “incompatibilidade geracional”.

Com isso, empurramos nossas próprias referências para o esquecimento. Apagamos memórias vivas. Perdemos história, afeto e aprendizado. É preciso dar nome a isso: opressão disfarçada de escolha.

Envelhecer não deveria significar desaparecer

Nós nos construímos na relação com o outro, com o ambiente e com o tempo. Passado, presente e futuro atravessam nossas experiências. Quando rompemos esses laços — quando excluímos pessoas LGBTQIA+ mais velhas,  não é só elas que perdem. Perdemos todos.

Perdemos a sabedoria. Perdemos a chance de enxergar o que já foi feito, o que precisa ser lembrado e o que ainda precisa ser realizado 

Fortalecer os vínculos é um ato político

Essa exclusão empobrece a comunidade como um todo. Romper com esse ciclo não é só uma questão de respeito ou empatia: é uma obrigação e uma forma de fortalecer os vínculos entre gerações permitindo  um presente íntegro.

É urgente criar espaços onde envelhecer não signifique desaparecer.

Espaços onde o tempo vivido seja reconhecido como potência, e não como peso. Onde o pertencimento não dependa da juventude, da estética ou da produtividade, mas exista pela dignidade de simplesmente ser.

 

 

Autor: Psicólogo Pedro Pinheiro

CRP:09/17634

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